O acampamento dos apoiadores de Lula, nas proximidades PF, em Curitiba. Por Ricardo Alcantara

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É uma noite de segunda-feira gelada. Os termômetros marcam 13°, mas a sensação térmica é de oito. Pessoas com coletes vermelhos e muitas barracas de acampamento estão por todos os lados. Estamos no coração do acampamento de manifestantes que fazem uma vigília e protestam contra a prisão dos ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nas ruas estreitas das proximidades da Superintendência da Polícia Federal (PF), no Santa Cândida, em Curitiba.

A maior aglomeração fica na Rua Guilherme Metter, um dos principais acessos à PF. Nela, fica o que parece ser a cozinha principal do grupo. Fica a barraca identificada como a subsecretaria dos manifestantes, e é onde todos se reúnem para discutir os rumos do movimento – esquina de assembleias – o centrinho do movimento.

A cena não é muito diferente nas ruas Barreto Coutinho; Franco Giglio e a João Gbur. Nelas, porém, as barracas disputam espaço com os ônibus das caravanas que não param de chegar.

Um cerco da Polícia Militar do Paraná (PM) isola os lugares em que os manifestantes estão acampados. Passamos por ele, Wagner Dias e Jennifer Thereza e eu, tranquilamente. Enquanto andamos no meio dos manifestantes percebe-se um clima de desconfiança. Somos os únicos sem roupas vermelhas.

Outro cerco separa os manifestantes do prédio da PF. Este, não atravessamos. Só de chegar perto da faixa que indica o local limite, já causa movimentação de um grupo da PM que está em frente à Superintendência e achamos melhor não avançar.

Pequenos grupos de vigias estão espalhados em cada extremidade dos acampamentos. Pessoas dormem em barracas e dentro dos bagageiros dos ônibus. Faixas e cartazes estão penduradas por todos os lados. “Moro juiz parcial” diz um cartaz. “Lula livre!” é estampado numa faixa amarela com letras vermelhas.

Ficamos perto da área central do acampamento e conversamos com alguns manifestantes. A grande maioria faz parte do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Um rapaz diz fazer parte de um grupo de Londrina. Encolhido de frio o rapaz diz que seu grupo deve ficar na vigília até quinta-feira quando um novo grupo chega para substituí-los.

Flávio, que esta ao lado do primeiro que converso, diz que não sai se Lula não for solto. Conta só ter um fogão e colchões que carrega pelas invasões organizadas pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) afirma que Lula representa esperança e com ele preso só lhe resta a coragem para lutar para recuperar a esperança.

Vendo sinceridade em seus olhos eu cumprimento Flávio, com admiração, antes de me despedir. Convido meus parceiros de visita para ir embora, e deixamos para trás o acampamento que um dia será contado nos livros de história. Pode ser que seja retratado por muitos desses livros como um acampamento formado por um grupo de pessoas que apoiou um corrupto. Mas o Flávio, independente das interpretações, deve ser retratado apenas como um cara que luta por uma das coisas mais especiais que um homem pode lutar. Flávio luta pela sua esperança – e no caso dele essa esperança é representada pelo Lula.

10/09/18 – 14:38

TEXTO E FOTO: RICARDO ALCANTARA, JORNALISTA

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