A imprensa do Paraná e um estado em miniatura
(por Ruth Bolognese) – A última coluna de Celso Nascimento na Gazeta do Povo tem o tom certo de amargura. Não pelo tempo dedicado ao Jornal, não pelo descartável, destino inerente do passar dos anos, mas por calar uma voz que não sucumbiu. O ofício do jornalismo é cruel, insensato e emocionante. E nos mantém na rabeira da pobreza quando exercido como deve ser.
Não há grandes salários, auxílio moradia, mordomias, comissões, enfim, é tudo no seco. Somos baratinhos diante do estrago que, por vezes, causamos na vida dos poderosos. E essa é a contradição mais extraordinária, como se disséssemos, diante da prepotência, da riqueza mal explicada, das maracutaias e mal feitos: “ai, se eu te pego”.
E geralmente acabamos pegando. Aí, a glória é do jornal. Em 52 anos de Gazeta, Celso Nascimento só escreveu um texto na primeira pessoa. Ao se despedir. E é assim que deve ser: os fatos sempre falam por si e quando o jornalista supera a notícia, o departamento é outro, do entretenimento.
Podem dizer o que quiserem, mas com a saída de Celso Nascimento, a Gazeta do Povo, aos 99 anos, já respira por aparelhos. Vai se extinguir pela via da desimportância, da não opinião, da falta de ousadia. Por trocar a seriedade pela superficialidade, o “sangue nos olhos”, patrimônio fundamental para qualquer repórter que se preze, pela monotonia de cultuar o bezerro de ouro do jornalismo enquadrado, certinho e bobinho.
E os paranaenses devem chorar o fim melancólico da Gazeta do Povo. Assim como devem chorar o fim dos outros jornais que, num passado da era jurássica, davam Curitiba como uma capital onde 9 primeiras páginas iam para as bancas todas as manhãs.
Sem uma imprensa forte e determinada, nenhum estado, ou país, se impõe. Sem jornalistas que se arriscam no limite do precipício para contar uma história, o poder de plantão se esparrama. A verdade está aí: o Paraná vem se apequenando tanto nos últimos anos que virou refém de lideranças que nos envergonham quando abrem a boca. Um estado em miniatura, sem relação nenhuma entre o que contribui no cenário nacional e o papel que ocupa, institucionalmente.
Para todos os Celsos Nascimentos que foram descartados nos últimos anos, por aqueles que levaram para casa – ou para outras plataformas da internet, como se diz agora – um patrimônio de experiência, conhecimento, respeito para com as notícias e os fatos, princípios e honestidade para com os leitores, podemos dizer apenas: “enterrem nossos corações à beira de um rio”.
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AOS 03/02/18
ÀS 13:48
FOTO/ARQUIVO/CELSO NASCIMENTO