A informação é do gazeteiro Celso Nascimento, editor chefe do Blog ContraPonto.
A revelação veio por conta de uma ação judicial entre a Ambev e os proprietários do Bar Brahma.
Veja abaixo a matéria do sempre competente Celso Nascimento.
Briga de bar revela segredos de estado
Semanas atrás o tradicional e movimentado Bar Brahma recebeu ordem judicial de despejo. Oficial de Justiça e Polícia foram lá para fechá-lo. A rápida intervenção de advogados reverteu a ordem, mas em seguida a Ambev, a dona do imóvel em que o bar funciona desde 1999 mediante contrato de parceria, cortou o fornecimento de chopp e em seguida cortou a água. O chopp voltou, mas a água, insumo vital para o funcionamento da casa, agora só chega em caminhões pipa.
Tudo isso caracteriza uma espécie de assédio para que a Banana Brasil, firma que tem como sócio principal o empresário João Guilherme Leprevost, desista do negócio, entregue o imóvel e, se quiser, que procure outro canto para se estabelecer – embora o contrato de parceria que mantém com a Ambev, que inclui a utilização do imóvel mediante aluguel, só vá terminar em 2027. Isto é, daqui quase dez anos!
A pressa da Ambev em se livrar do inquilino acaba por revelar alguns segredos de estado constantes do contrato que firmou em 2012 com o governo estadual para aproveitar os vantajosos incentivos fiscais oferecidos pelo programa Paraná Competitivo.
O contrato entre a gigante cervejeira, fabricante da Brahma e dona de algumas das marcas mais famosas ao redor do mundo, nunca teve seu conteúdo integral conhecido pelos reles mortais. Sabia-se apenas que o projeto da Ambev de construir uma nova unidade industrial em Ponta Grossa dava-lhe o direito de prorrogar por vários anos o início do pagamento do ICMS e, ainda por cima, com alíquotas menores.
Em troca, se obrigava a transferir a propriedade do imóvel, do tamanho de uma quadra inteira, que sua antiga fábrica ocupava na avenida Getúlio Vargas, incluindo as velhas edificações. Uma fração deste imóvel, situada na esquina da Getúlio com a rua João Negrão, funciona o Bar Brahma – um conceito de divulgação da marca criado por Leprevost no fim dos anos 1990 e ampliado para diversas capitais com outros parceiros que a Ambev arranjou após o sucesso obtido em Curitiba.
Não era segredo que o governo do estado pretende aproveitar as antigas instalações da cervejaria para instalar um complexo cultural. Este fato foi divulgado à época do contrato com o Paraná Competitivo. Mas o que o Bar Brahma nunca soube é que a esquina que ocupa também tinha sido incluído na negociação. E também não sabia que a transferência da totalidade da área para o governo deveria se dar no fim de julho de 2017.
Só soube disso porque a Ambev e o governo, por requerimento dos advogados do Bar Brama, foram obrigados pela Justiça a abrir os segredos que guardavam a sete chaves. E só então se descobriu que, à sua revelia e sem seu conhecimento, o Bar Brahma também teria de ser desocupado, apesar do contrato de parceria com vigência prevista para até 2027.
Diante da revelação, a Justiça também voltou atrás na ordem de despejo e passa a examinar a causa sob a visão de um fato até então desconhecido. O que não impediu a Ambev de cortar o chopp e a água. A briga ainda vai longe.
Um detalhe que também deixou de ser segredo: o governo do estado aceitou receber o terreno pelo valor de R$ 104 milhões em 2012. Em 2013, a igreja Universal comprou por R$ 13 milhões a meia quadra onde funcionava a centenária Matte Leão, do outro lado da rua. A diferença de preço parece ser bem desproporcional.
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19/02/18 – 08:00
FOTO/ILUSTRATIVA