Dar carne crua para cães e gatos gera riscos para o bicho e para o dono

O gazeteiro Phillippe Watanabe informa que o costume de dar carne crua para cães e gatos pode representar um perigo tanto para os bichinhos quanto para as pessoas que vivem com eles. Pesquisadores encontraram contaminação pela bactéria Escherichia coli em 80% da comida analisada destinada aos animais.

A matéria foi publicada na Folha de São Paulo, edição desta terça-feira ( 16/01)

A conclusão é de um estudo publicado na última semana na revista especializada “Veterinary Record”, publicação oficial da Associação Britânica de Veterinária e parte do grupo de periódicos “BMJ”.

Trinta e cinco amostras, de oito marcas diferentes, de comida crua industrializada destinada a animais foram analisadas.

O foco da pesquisa foi a Holanda, mas os resultados não necessariamente se restringem ao país. No Brasil, é comum que os donos deem aos animais pedaços de carne e até ossos –há também quem dê vegetais e grãos para os bichinhos.

Muitos donos optam por esse tipo de alimentação crua por supostos benefícios de saúde, o que, segundo os autores da pesquisa, são “anedotas, sem estudos que comprovem tais afirmações”.

“Por outro lado, várias publicações reportaram riscos associados com a alimentação crua, incluindo casos de hipertireoidismo e lesões como perfuração gastrointestinal e fraturas dos dentes”, dizem os autores na publicação.

A comida crua está “na memória desses animais, é algo de milhares de anos”, afirma Josélio de Andrade Moura, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Veterinária. “Se você oferecer uma carne crua e uma cozida, ele vai primeiro na crua.”

Segundo Moura, é importante saber se a carne apresenta contaminação por bactéria, larva ou algum outro agente patológico, o que não necessariamente é algo fácil no dia a dia.

Por isso, a melhor opção é dar ração para os cães e gatos. Moura afirma que carnes cozidas também são uma alternativa.

Além do perigo para os animais de estimação, os seus humanos também correm risco com esse tipo de alimentação. No estudo feito na Holanda, 23% das amostras estavam contaminadas com um tipo específico de E. coli que, nas pessoas, pode causar problemas de saúde mais sérios, como colites hemorrágicas.

Também foi encontrada Listeria monocytogenes em 54% das amostras. A infecção pela bactéria provoca sintomas parecidos com os da gripe, mas em recém-nascidos e em mulheres grávidas pode trazer problemas mais graves, como o aborto.

Espécies de Salmonella também foram encontradas nas amostras.

Por fim, a resistência bacteriana à antibióticas é outra preocupação. Os animais que consomem carne crua estão mais propensos à infecção por bactérias resistentes do que os que têm dietas convencionais.

CUIDADOS

Enquanto para os animais a contaminação ocorre pelo contato direto com a comida –o que pode evitado com o uso de ração–, nos humanos a infecção pode acontecer ao compartilhar a cama com os bichinhos, com má higiene após lambidas no rosto e nas mãos e também por contaminação cruzada de outros alimentos, ao limpar a vasilha da mascote na pia da cozinha por exemplo.

De toda forma, os pesquisadores afirmam que o pequeno número de amostras não permite uma generalização dos níveis de infecção ou a execução de uma análise de risco mais profunda.

Mesmo assim, pelas altos níveis de infecção por bactérias encontrados na pesquisa, é possível estimar elevadas taxas de zoonoses (doenças que podem ser transmitidas pelos animais) e de parasitas nos alimentos crus.

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