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Eleições na Argentina

Eleições na Argentina

A ‘milonga peronista’ e a dança macabra de Milei e Macri – Por Milton Alves

Nas próximas duas semanas, a Argentina vai ter um novo encontro com as urnas. Uma eleição decisiva para o futuro do país, e o resultado eleitoral terá um forte impacto no projeto de integração regional – Mercosul – e na expansão do Brics na América do Sul.

A Argentina atravessa uma prolongada e dolorosa crise econômica, que afeta de forma severa as condições de vida do povo trabalhador e das camadas médias. Uma dívida externa dolarizada – que sufoca o país -, uma inflação galopante de 130% ao ano, desemprego crescente, desindustrialização, e como no Brasil, uma economia, cada vez mais, dependente da exportação de insumos primários e do agronegócio.

Nesse contexto, ocorre o processo eleitoral mais polarizado e eletrizante das últimas décadas, sem um claro favoritismo para os dois candidatos que alcançaram o segundo turno, ou a balotagem, como dizem os argentinos.

Apesar da virada espetacular do candidato Sergio Massa (Unión por La Pátria), atual ministro da Fazenda, do impopular presidente Alberto Fernández, que atingiu 36% dos votos válidos contra 30% de Javier Milei (La Libertad Avanza) e 24% da candidata Patricia Bullrich (Juntos por el Cambio), a aliança da direita tradicional – liderada pelo ex-presidente Mauricio Macri – o segundo turno será uma disputa voto a voto, e vai levar quem errar menos, e quem exercer a maior capacidade de explorar as contradições políticas de aliados de primeira e última hora entre os dois campos em disputa até o dia 19 de novembro.

A campanha de Massa acertou quando mirou no candidato da ultradireita, o escatológico Javier Milei, batendo duro nas propostas mais antipopulares e pró-mercado do candidato da extrema direita, como o fim de todos os programas sociais e de subsídios estatais, privatização da saúde, da educação, liberação das armas, a questão dos mortos durante a ditadura militar, a permissão para a comercialização de órgãos humanos, a extinção do Banco Central, o fim de qualquer regulação da atividade econômica e a dolarização completa da economia argentina.

O acerto no discurso político foi acompanhado também de promessas de manutenção dos programas sociais e de transferência de renda, de combate ao monstro inflacionário, da retomada de obras públicas, programa de construção de casas populares e a defesa da educação pública de qualidade, entre outras propostas.

Manobra das petroleiras

Nos últimos dias, as petroleiras que controlam a venda de combustíveis na Argentina, o país é autossuficiente, provocaram um processo generalizado de desabastecimento na Grande Buenos Aires e exigem do governo um aumento de preços. A questão atravessa o debate político e eleitoral e, sem dúvida, é uma manobra política que favorece a candidatura da extrema direita.

O governo do presidente Alberto Fernández tem denunciado a manipulação política e econômica das petroleiras e garante que o abastecimento será normalizado nos próximos dias. De toda forma, a crise provocada pelo desabastecimento indica os perigos que a campanha de Massa tem pela frente nas próximas duas semanas.

Pesquisas e debates

As diversas pesquisas divulgadas após o primeiro turno confirmam um cenário de empate técnico e algumas apontam um ligeiro favoritismo de Sergio Massa. Pesquisa da Atlas/Intel, divulgada na sexta-feira (3), apontou o seguinte quadro da disputa: Javier Milei com 52% de intenções de votos e Sergio Massa com 48%. A margem de erro da pesquisa é de 2%. Ou seja, um quadro de empate técnico. A Atlas/Intel ouviu 3.218 eleitores entre os dias 1º a 3 de novembro.

Pesquisa Zuban/Córdoba, divulgada pelo jornal Clarín, realizada nos dias 28 e 29 de outubro, com 2 mil eleitores/as, apontou Massa com 45,4% dos votos válidos e Milei com 43,1% dos votos.

O debate nacional mais importante do segundo turno acontecerá no próximo dia 12 de novembro.

Voto a voto e alianças

A estratégia da campanha de Sergio Massa segue sem turbulências e avança na direção da conquista de novos aliados, além de unificar a “nação” peronista, as formações políticas da extrema esquerda agrupadas na FIT (Frente de Esquerda e dos Trabalhadores), da candidata Myriam Bregman (cerca de 3% dos votos no 1º turno), que estão integradas na campanha, agora busca atrair os setores descontentes da aliança que impulsionou a candidatura de Patricia Bullrich, em particular dos liberais clássicos da União Cívica Radical (UCR), partido que rejeita publicamente as propostas mais grotescas e extremistas de Milei.

A campanha de Massa também reforça o trabalho eleitoral no cinturão peronista da Grande Buenos Aires, que congrega 37% do eleitorado, esforço coordenado pelo governador reeleito da Província de Buenos Aires, Axel Kicillof, um aliado político da vice-presidenta Cristina Kirchner.

O ótimo desempenho na Grande Buenos Aires, o voto do eleitorado feminino e a mobilização intensa das bases sociais e institucionais do conjunto do peronismo foram os fatores chaves para o resultado exitoso da campanha de Massa no primeiro turno. E a aposta nessa fórmula continua para o segundo turno, ampliando com a conquista de dissidentes do bloco Milei-Macri — com isso, é possível a vitória.

Por sua vez, a campanha de Milei tenta atenuar os seus aspectos mais grotescos e extremistas no segundo turno, uma exigência de seus aliados da direita neoliberal, liderados por Mauricio Macri.

Resta saber, como um Milei “repaginado” vai impactar em seu eleitorado mais duro e consistente, jovens na faixa de 16 a 24 anos, que foi capturado pelo falso discurso antissistema e do “contra tudo e todos” do establishment político.

Por ora, a milonga peronista demonstra ritmo e eficácia contra a dança macabra, que juntou os neofascistas de Milei com os neoliberais de Macri.

*Jornalista e escritor. É colunista de diversos portais e sites da mídia progressista e de esquerda. Autor dos livros ‘Brasil Sem Máscara – o governo Bolsonaro e a destruição do país’ (Kotter, 2022) e de ‘Lava Jato, uma conspiração contra o Brasil’ (Kotter, 2021). Graduado em Gestão Pública pela UFPR e faz Pós-Graduação em Ciência Política – UniCesumar. É militante do Partido dos Trabalhadores (PT), em Curitiba.

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