A jornalista Mariana Agunzi da Folha de São Paulo fez a viagem deliciosa de Curitiba à Morretes.
Entrar na litorina de luxo que parte de Curitiba, capital do Paraná, rumo à pequena Morretes, na região litorânea do Estado, é como voltar ao início do século.
Mobiliário rústico, sofás de veludo, afrescos e abajures transportam os passageiros a uma novela de época. “Seja bem-vindo”, diz a comissária ao oferecer uma taça de champanhe a quem entra.
A viagem que percorre a ferrovia inaugurada em 2 de fevereiro de 1885 pelos irmãos Antônio e André Rebouças começa pontualmente às 9h15. Estende-se por três horas e meia (ou mais, já que os trilhos são compartilhados com trens de carga), a míseros 20 km/h.
O deslocamento lento quase não é sentido. Absortos pela paisagem, os viajantes desvendam os mistérios de uma mata atlântica preservada. A litorina passa pelo conjunto do Marumbi, na Serra do Mar, pela cascata Véu da Noiva e desponta no vão-livre da ponte São João, construída na Bélgica e inaugurada em 1884.
Chega, por fim, à charmosa Morretes. Cortada pelo rio Nhundiaquara, a cidade de pouco mais de 15 mil habitantes, antigo território de carijós, foi fundada no início do século 18 pelo ouvidor português Raphael Pardinho. No chão, paralelepípedos. Na praça, vendedores oferecem artesanato, compotas, geleias e cachaça.
Para saciar a fome, prove o famoso barreado. Estrela do local, o prato leva carne bovina cozida em panela de barro, por cerca de 12h, até quase desfazer.
Ele é acompanhado de banana e de farinha de mandioca —que, ao ser acrescida, lembra um pirão. Fica irresistível.