No dia que eu comi um cigarro – Por Manaoos Aristides

cigarro comendo

Hoje completo 36 anos sem fumar, aposto que você nunca ouviu isso de alguém fez, falando e dando o valor pelo que o fato merece? Fui fumante uns 15 anos, confesso que ainda tenho sonhos e devaneios com um cigarro nas mãos dando uma tragada e soltando fumaça pelo nariz.  Grandes recordações com esse hábito sujo e nojento, mas que na minha época era o charme da juventude, virilidade isso se assim podemos rotular. Hoje faço uma pergunta para mim mesmo. Porque larguei de fumar, porque? Bem não me recordo muito bem, exatamente o motivo, mas recordo sim que estava um ato intimo com uma musa que investi uns meses nessa conquista e no momento cheio de gás e tesão, senti um aperto no peito e uma dor fina no que chamamos de coração. Parei todos meus movimentos e apenas fitei os olhos naquele rosto angelical, olhando dentro dos meus olhos e a mensagem era lógica, senti ali naquele momento o que musa estava pensando. “Nossa ele está morrendo!”, foi assim, questão de segundos. Sua mão direita no meu peito e eu apenas recebendo seu pensamento concluso, apenas me deixei levar e através de seus braços protetores, me acolhendo no colchão macio. Segundos, minutos, horas, dias, anos, quase um século passou pelos meus pensamentos, meu corpo era apenas um meu pedaço e o frio causado pelo suor me deixou todo molhado. Não me lembro como e quando com exatidão, dali sai, mas o pensamento que li nos seus olhos jamais esquecerei. A vida passa e nunca mais nos vimos e nem se falamos ao telefone, apenas trago nessas imagens que dizer, “não fumo mais”. Meses depois, sem colocar nenhum cigarro na boca, mas a mania de comprar cigarro e fósforo, coisa que fazia todos os dias, porém não fumava nenhum apenas abria o maço virava com seu filtro para cima e escolhia um cigarro, cheirava e colocava na boca, porém nunca acendia, nunca. Um dia num elevado na zona leste, em São Paulo estava num engarrafamento gigantes, com quase 40 graus de calor, olhei no quebra-sol do carro e lá estava um maço de cigarro juntamente com a caixa de fósforo, olhando pra mim, com um convite criminoso. Não resisti, pequei o maço, tirei o cigarro no mesmo ritual, coloquei na boca e com o carro parado no trânsito, acendi o fósforo. Li na chama do fósforo o pensamento daquela musa que só morava nesses momentos nas minhas memorias. Joguei o palito de fósforo fora, e em companhia foi também o maço. Quando levei a mão ao cigarro para dar o mesmo destino, olhei e refleti. Se não posso fumar, por que não como? Comi e a reação foi imediata, náusea e mais náusea e vomitei o carro todo, nunca na minha vida senti tanto nojo de mim mesmo. Hoje relembro e confesso o cheiro daquele momento me acompanha até hoje, basta alguém perto de mim acender um cigarro que dou três a quatro passos para trás, eu não fumo nunca mais, mesmo lembrando a delicadeza da musa que me amparou com sua mão meu peito caindo.

(texto de Manaoos Aristides).
MANAOOS

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