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Sujou geral. Operação Quadro Negro. Maurício Fanini diz que foi pago para proteger Beto Richa. Maracutaia pode chegar a R$ 20 milhões

Em proposta de delação premiada entregue à Procuradoria-Geral da República (PGR), Maurício Fanini, ex-aliado do governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), afirmou que recebeu dinheiro para não comprometer o tucano na operação Quadro Negro, que apura cerca de R$ 20 milhões de desvios da construção de escolas públicas para beneficiar políticos. Fanini chegou a ocupar cargos no governo do tucano. A informação é matéria de capa da edição de hoje do jornal “O Globo”.

Fanini sustentou que recebeu um “cala boca” do empresário Jorge Atherino no valor mensal de cerca de R$ 12 mil. Os pagamentos teriam acontecido por ordem de Richa, após a exoneração de Fanini da presidência da Fundepar, em junho de 2015. A autarquia foi reativada pelo governador para cuidar da parte administrativa da Secretaria de Educação.

Dois meses depois, o amigo do governador foi detido na operação Quadro Negro, ao ser apontado como peça-chave do esquema, mas logo foi solto. Em setembro, porém, foi preso pela segunda vez e segue detido.

Beto Richa está no último ano do segundo mandato como governador do Paraná e pretende concorrer a uma vaga no Senado em 2018. A aliados, ele afirma que seus planos dependerão das consequências das revelações de Fanini, que estão em análise na PGR. Há um mês, um procurador da equipe da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, viajou para Curitiba para ouvir o candidato a delator, mas o órgão ainda não se posicionou sobre o fechamento do acordo.

Além de relatar tentativa de obstrução de Justiça por parte de Richa, Fanini detalhou viagens que fez com o governador e que teriam sido pagas por empresários que tinham negócios com o estado. Gastos em viagens do governador já haviam sido relatados por outro delator. Eduardo Lopes de Souza, dono da construtora Valor, que já teve a delação homologada no âmbito da Quadro Negro, contou que deu US$ 20 mil em espécie para Fanini levar e usar com Richa na chamada “viagem da vitória”, em novembro 2014, para Miami e Caribe, com a intenção de celebrar a reeleição do governador do Paraná. Segundo Souza, durante a viagem, Fanini teria comprado um relógio Rolex de presente para o governador reeleito.

A construtora Valor integrava o esquema de desvios da construção de escolas públicas do Paraná. O dono da construtora também relatou que Fanini era intermediário de repasses de dinheiro a Richa. O ex-servidor e o governador foram colegas de faculdade.

Além dessa investigação, que corre em sigilo no Superior Tribunal de Justiça (STJ), há outras duas que envolvem o governador do Paraná e o empresário Jorge Atherino, que teria realizado os pagamentos do suborno a pedido do tucano. Uma delas apura se Atherino foi o operador de Richa no pagamento de R$ 2,5 milhões de caixa dois feito pela Odebrecht à campanha de reeleição do político em 2014. Segundo a delação do ex-executivo Benedicto Júnior, Atherino procurou a Odebrecht em nome do comitê do PSDB local pedindo apoio para a reeleição de Richa. Ele teria sido o responsável por combinar com a empreiteira a senha e o endereço de pagamentos ilícitos.

A terceira investigação apura um decreto assinado pelo governador que liberou a construção de um empreendimento próximo ao Porto de Paranaguá (PR), que favoreceu a Green Logística, empresa da família de Atherino. Segundo o Ministério Público, a Green Logística tem como uma de suas sócias a FC Participações, mesma empresa que figurou no quadro societário da Green Gold, que teve entre os donos dois filhos de Richa.

A assessoria do governador negou as acusações e disse que Richa nunca autorizou Atherino a fazer pagamentos em seu nome. Sobre Fanini, afirmou que “assim que houve suspeitas de irregularidades envolvendo o servidor, foram exonerados os suspeitos e deflagradas medidas administrativas e judiciais para apurar responsabilidades pelos ilícitos praticados”. Disse ainda “o Poder Executivo, por determinação de Richa, promoveu todas as ações de responsabilizações de servidores antecedentes e concomitantes à Quadro Negro, sempre subsidiando os órgãos públicos”.

Segundo o governo do Paraná, as apurações resultaram no ajuizamento de oito ações de improbidade e sete ações civis públicas. “Todas as irregularidades que chegaram ao conhecimento do governador Beto Richa foram imediatamente combatidas”. Diz ainda que as informações do delator da Odebrecht, de que o empresário teria operado em sua campanha de reeleição, são “inverídicas” e que “todas as doações eleitorais de campanhas foram declaradas à Justiça Eleitoral”. As defesas de Maurício Fanini e Jorge Atherino não quiseram se pronunciar.

 

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